Brasileiros

Circula por email um texto que, resumidamente, diz:

"Reclamando dos politicos....? E você age como?...
Brasileiro reclama de quê?
O Brasileiro:
- Saqueia cargas de veículos acidentados nas estradas 

- Estaciona nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas.
- Fala no celular enquanto dirige.
- Pára em filas duplas, triplas em frente às escolas.
- Viola a lei do silêncio.
- Dirige após consumir bebida alcoólica.
- Fura filas nos bancos, utilizando-se das mais esfarrapadas desculpas.
- Espalha mesas, churrasqueira nas calçadas.
- Estaciona em vagas exclusivas para deficientes.
- Compra produtos pirata com a plena consciência de que são piratas.
- Emplaca o carro fora do seu domicílio para pagar menos IPVA.
- Leva das empresas onde trabalha, pequenos objetos como clipes, envelopes, canetas, lápis.... como se isso não fosse roubo.
E quer que os políticos sejam honestos...
Escandaliza-se com a farra das passagens aéreas...
Esses políticos que aí estão saíram do meio desse mesmo povo, ou não?
Brasileiro reclama de quê, afinal?
Sugiro adotarmos uma mudança de comportamento, começando por nós mesmos, onde for necessário!
Vamos dar o bom exemplo!
Espalhe essa idéia!"

Uma das versões pode ser encontrada aqui.
 
Minha opinião sobre o tema:
 
O texto é até pertinente e fala dos problemas diários da vida dos cidadãos. Destaca, com correção, a necessidade de uma vida que seja moralmente correta o tanto quanto possivel. Mas faço 2 observações:


1) Este texto, que faz looping na internet há vários anos, aparentemente sempre vem para justificar e aliviar o lado de determinado governo que esteja no poder.

2) Exemplo prático: tento, há 4 anos, 'começar por mim" e parar no PARE do trânsito. Não adiantou nada, se eu continuar a fazer, vão passar por cima . Então, "a mudança começa por mim/minha casa" nem sempre tem os efeitos que, no papel, achamos que vai ter.

Por outro lado, quando o governo fez leis e campanhas de conscientização - como a do cinto de segurança, p.ex - , a prática pegou, na maioria dos casos.

Acredito, portanto, que para muitas coisas, o exemplo precisa vir de cima.

E há ainda uma terceira observação: muitos dos exemplos relacionados fazem mais parte da vida privada de cada um. Apesar de serem erros, não há comparação com o fato de que os politicos estão investidos de um cargo público e de confiança, dado pelos cidadãos, no qual têm o poder de alterar a vida de milhoes de pessoas. Roubar 'um clipe' da empresa é errado moralmente, mas suas consequências sao infimas perto de roubar 100 milhoes da saúde, superfaturamentos, desvios, sentenças compradas., uso da máquina pública, etc.. O mesmo vale para o legislativo e o judiciário.

Sem falar que, na maioria das vezes, o cidadão leva a multa ou vai preso. As figuras públicas...bem....
Na Igreja, sim, a abordagem é diferenciada; todo pecado é igual e precisa de arrependimento e perdão igualmente. Na pólis, há distinção prevista em lei para a gravidade de uma ação, manifesta inclusive na diferença de penas previstas para cada delito. Creio que nenhum de nós acharia justo sermos comparados a um politico que rouba, mata, corrompe, prejudica e alicia, para o prejuizo de milhoes, pelo fato de pararmos em fila dupla, espalharmos mesa e churrasqueiras nas calçadas ou furamos a fila num banco.

Não que eu não concorde com o fato de que precisamos ter valores e agirmos o mais corretamente possivel no nosso cotidiano. É uma obrigação moral de todo cidadão da pólis. Mas a mim parece que este tipo de texto pode vir somente a contribuir para deixar as coisas cada vez mais como estão. Porque o povo não muda, ou muda muito lentamente(falta educação de qualidade e eficaz - e também exemplo de cima) e os poderes da Republica são, então, desculpados para continuar a fazer o que quiserem.

Comentários

Tiago Albrecht disse…
Olá Pastor Lucas.

É claro que roubar 100 milhões, ainda mais investido de um cargo público, é pior do que piratear um CD de 15 reais. Mas eu enxergo o texto como um convite à reflexão para mudarmos a nossa índole como brasileiros. Mudando a nossa índole, vamos poder, de fato, criticar os políticos larápios, principalmente criticando-os ao não votar neles na próxima eleição.
O texto pede uma mudança de essência e não só de consequência. Abraços.
Lucas Albrecht disse…
Olá, Tiago, obrigado pela visita!

Quanto à reflexão, concordamos, tanto queo texto comenta "Destaca, com correção, a necessidade de uma vida que seja moralmente correta o tanto quanto possivel" e "Não que eu não concorde com o fato de que precisamos ter valores e agirmos o mais corretamente possivel no nosso cotidiano. É uma obrigação moral de todo cidadão da pólis".

O ponto deste contraponto é lembrar que o exemplo também precisa vir de cima para ajudar a mudar essência e consequência dos brasileiros. E, também, que quanto maior o poder, maior a responsabilidade.

Assim como uma criança que nasce, em essência, inclinada para o erro e precisa do exemplo de cima - dos pais - para ajudá-la mudar.

Abraço igualmente,

Pastor Lucas

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