Inveja do bem?


O termo já está bastante difundido, com sua variante ‘inveja branca”, como se pudesse ser algo bom ou, ao menos, aceitável. Só que não. “Inveja do bem” não existe. Quando gostamos de algo que o outro tem e temos vontade de ter também, existe nome. Admiração, desejo, vontade de ter, e sinônimos. Se passar para o lado negativo, se torna inveja mesmo, aquele sentimento maligno que conduz a pensamentos errados e, com alguma frequência, também a atitudes, como, por exemplo, quando a inveja vira cobiça. Nenhuma das duas é ‘do bem’.
Precisamos parar de suavizar ou ate mesmo corromper o sentido das palavras, especialmente os defeitos humanos. Pois vamos destruindo lentamente a linha do certo e errado, dando força para quem tenta se colocar acima dos demais, selecionando quais os defeitos aceitáveis e quais os condenáveis. O risco? Irmos adiante nas redefinições do que é ‘do bem’. Raiva branca, xingamento do bem, roubo branco, calúnia branca, violência do bem... Morte por arma branca?  

Este é o problema de diluir o sentido das palavras, ou transportá-las para campos semânticos que colocam em risco o que precisamente precisam dizer, apontar, condenar.

Vale lembrar que foi inveja que, por exemplo, levou Jesus Cristo à morte de cruz, dado o grau com que ela se apossou de seus opositores. Deus, no entanto, transformou esta consequência em algo efetivamente do Bem, a obra que traz perdão para qualquer erro, nos colocando, em fé, em seus braços e princípios de amor.

Em vez de dourarmos a pílula da inveja com branca, rosa, preta, amarela, ‘do bem’, é melhor utilizar o remédio que realmente a ataca. Reconhecer este sentimento nefasto e, com arrependimento e fé,  construirmos o caminho da admiração, valorização da conquista e desejo de ter, de maneira correta, aquilo que é necessário, que nos faz bem ou que nos satisfaz.  O que é mais importante pra vida Deus já deixou à disposição de todos, para não haver inveja ou cobiça. Nas demais coisas, auxiliar o próximo a conservar seus bens e seu meio de vida, e não invejá-lo, é o que realmente pode se considerar ‘do bem”.

Precisamos continuar a reconhecer o sentido das palavras, antes que a falta de sentido nos deixe reféns do que há de pior.



P. Lucas André Albrecht

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